Levantamento mostra que só no primeiro semestre do ano foram registradas 355 paralisações
O Dieese apresentou um balanço sobre as greves de trabalhadores no primeiro semestre. O estudo mostra que nove a cada 10 paralisações tiveram o chamado caráter defensivo: pautaram a manutenção de direitos e cumprimento de condições mínimas de trabalho.
O levantamento mostra que só neste primeiro semestre foram registradas 355 greves. Ao todo, os trabalhadores da esfera privada promoveram 195 paralisações, já os funcionários do setor público fizeram 160 greves.
Paulo Jager, economista e supervisor do Dieese, afirma que 90% das greves tiveram esse viés defensivo. As reivindicações relacionadas ao pagamento de salários em atraso foram as mais frequentes: 37%. O especialista explica que as ações dos trabalhadores são reflexo do desmonte dos direitos trabalhistas no Brasil.
“Essa postura defensiva mostra que o cenário é desfavorável, um reflexo da situação do país. Existe uma investida do patronato e do governo, desde Michel Temer, para alterar a legislação e retirar direitos. Ainda estamos durante a pandemia, que agravou o cenário, e depois que o vírus passar haverá novas consequências, seja no mercado de trabalho ou na organização dos trabalhadores”, explicou, em entrevista à Rádio Brasil Atual.
Greves e pandemia
O Dieese mostra ainda que das 355 greves registradas no primeiro semestre apenas em 103 foi possível obter informações a respeito do desfecho. Deste total, 73% lograram algum êxito no atendimento às reivindicações.
A maior parte das paralisações no setor privado atingiu os trabalhadores de transporte (87 vezes), do setor de Turismo e Hospitalidade (32 vezes) e profissionais da educação (10 vezes). Na indústria, a maioria dos movimentos foi realizada por metalúrgicos, promovendo 25 greves no semestre.
De acordo com o especialista a pandemia de covid-19 fez nascer alguns novos movimentos, como a paralisação dos entregadores de aplicativos. Entretanto, também freou ações importantes, como a greve nacional na educação, pelo reajuste do Piso Nacional do Magistério.
“Haveria uma paralisação nacional da educação em março, mas por conta da pandemia, ela foi interrompida. Com a quarentena e o distanciamento social, praticamente algumas greves ficaram inviabilizadas. Por outro lado, os trabalhadores de serviços essenciais fizeram paralisações por melhorias salariais e também por proteção à saúde”, afirma Paulo.